sexta-feira, 8 de abril de 2011

Bagagem


Como a gente sabe se está sendo mesmo verdadeira? Como a gente sabe se em algum momento, uma escolha foi totalmente influenciada e acabou mudando para sempre o rumo de nossas vidas, tornando então todas as outras escolhas impuras e contaminadas? E mesmo que as escolhas sejam sempre minhas, o que me fez escolher estar aqui é realmente digno de minha escolha agora?

O recomeço, doce possibilidade. Mas o recomeçar daqui em adiante é diferente de começar do zero, já se tem bagagem, algumas definições, medos, aceitações... Alguma coisa originalmente nossa já foi perdida, já não somos mais. Como a gente sabe o que era fundamental, essencial e o que era dispensável, peso morto?

Não se sabe. Não se sabe se o que renunciamos nos levaria de fato a nossa escolha primordial. Não se sabe se esta escolha estaria agora com maior beleza, leveza, felicidade. Nunca poderemos saber, mesmo que se recomece, mesmo que se mude a direção. O tempo já é outro, o corpo já está marcado. É como mudar de casa, levam-se os móveis antigos, nem que seja um lençol, um copo, um quadro, uma fotografia. Leva sempre o que já é teu, é impossível se desfazer de tudo.

Leva o que já sabe e o que preferiria não saber. Mas muda suas certezas, questione até o que acredita estar certo. Nunca se é livre do passado, mas a escolha é sempre presente no agora.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Pela Lealdade...


Sim, tudo acaba nessa vida. Temos ciclos, inícios e fins...Recomeços... A eternidade de algo é uma visão romântica e ingênua, simplesmente irreal e mesmo sabendo disso é difícil se libertar dessa crença de imortalidade, da vontade que temos em certos momentos de fazer as coisas durarem para sempre.

Não estou aqui dizendo que nada vai durar por uma vida, pelo contrário, acredito que muita coisa dura a vida toda, relacionamentos, trabalhos, amizades... Mas acreditar que eles não passam por modificações é até infantil.

“Tu te tornas eternamente responsável pelo o que cativas”. Sempre pensei muito sobre essa frase, e não acredito que ela esteja dizendo que somos responsáveis eternamente pelas pessoas que cativamos, é meio inviável isso. Somos responsáveis pelos nossos atos que provocaram o sentimento no próximo, pelas características que temos que despertaram amor, afeto, ternura...Isso sim está dentro do nosso controle e é de nossa responsabilidade. Boas atitudes, gentilezas, iniciativas, sorrisos, compreensão, companheirismo, delicadezas... A nossa responsabilidade com o próximo é manter a coerência em nossa ações, nunca deixando de agir com as características que fundaram a relação e isso pode até parecer simples, mas não é.

Temos, vez ou outra, atitudes egoístas, e elas são até necessárias em algumas ocasiões, mas acabamos pensando nas nossas próprias satisfações e deixando de lado o outro, as outras questões. Encerra-se assim um ciclo, passamos para outra fase, com outras prioridades e vontades, com novos desejos. Pois então é ai que entra nossa responsabilidade pelo o que cativamos: Como lidar com essa transição de forma coerente e digna, mantendo o respeito, a compreensão e a honestidade como os nossos próprios sentimentos e os sentimentos do outro?

Atualmente acredito que a chave de tudo isso seja a lealdade entre os envolvidos. Nas minhas reflexões vejo que, quanto mais formos leais e companheiros, mais transparente e fácil fica a transição entre os ciclos naturais da vida. A lealdade nos permite ter segurança para falar sobre tudo, e mais, nos ensina como falar sobre qualquer coisa. O companheirismo nos dá a oportunidade de compreender melhor a outra parte. A lealdade alimenta o companheirismo, e vice-versa.


Nós somos responsáveis pelas nossas atitudes. Não temos o controle de como o outro irá se sentir. Nossa obrigação é com o respeito e a dignidade, com a prática dessas questões, com a beleza das transições e a aceitação da individualidade. A lealdade não implica em eternidade; ela faz com que os ciclos sejam completos, que se realizem dentro do seu propósito e que existam pelo tempo necessário.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Por enquanto, eu....


Talvez o ponto crucial seja o fato de que, sempre que ocorre algo inesperado, fora dos meus planos, eu acabo alterando também os meus próprios planos. Desisto. Tenho preguiça e continuo em linha reta para evitar escaladas, buracos e obstáculos não programados. Que nada me perturbe, por favor. Essa estrada aqui está boa, se pegar o caminho novo, posso não gostar, pode ser difícil, pode machucar...

Me espanto comigo mesma. Como a mesmice pode ser atraente? Como posso desistir tão facilmente se ainda há tanta vida dentro de mim? Tanta vida, tanta sede, tantas coisas para realizar. E afinal, onde descansam meus sonhos? Preciso acordá-los, berrar para que levantem, para resgatarem a ansiedade de serem concretizados. Preciso achá-los, descobrir onde os escondi, pedir que voltem, implorar se for necessário!

Que linda história eu escrevo. Tão espontânea, tão minha. Não poderia ser diferente, eu sempre me joguei para a vida, sempre tive o coração aberto, ausência de temor por me arrepender. Eu fui para os lugares que o amor me levou e não tive medo, nem desconfiança. Eu fiz por mim, para realizar aquilo que eu acreditava no momento, para satisfazer os meus desejos. E hoje eu sigo meu raciocínio e nada mais...

Não é que eu tenha perdido a capacidade, trata-se apenas de acomodação. Em alguns momentos eu clamo para que alguém consiga me tirar dessa condição, mas logo me conscientizo que só eu posso fazê-lo. E não faço, e não me escuto, e não entro em contato, e sigo.

Acontece que minha natureza não é essa, e isso faz ser lógico o fato de não estar satisfeita. Mas aprendi a ser feliz assim mesmo. Só não sei até que ponto isso é bom, isso é ruim. Só sei que não sou eu.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Que Fazer com o Saber


Ter conhecimento. Saber que sabe. Ser sábio. O que de fato torna uma pessoa digna desse título?

O acumulo de conhecimento, de vivência e experiências nos tornam capazes de formar conclusões sobre as mais variadas questões. E de repente acreditamos que detemos tal sabedoria sobre um assunto, como se não precisássemos saber mais nada sobre, ou pior, como se não existisse mais nada para aprendermos. E nos julgamos sábios. Sábios de um julgamento só.

Toda nossa formação vai compor as nossas conclusões. E cada um tem a sua formação pessoal, e consequentemente tem também a sua própria conclusão. Cada pensamento, do momento que nasce até a sua finalização, está repleto de ideias singulares e baseado nas experiências pessoais de cada um. Não temos como fugir disso. Estudar um assunto é diferente de vivenciá-lo. E para vivenciá-lo existem milhões de possibilidades, jeitos, formas... Isso, por si só, já demonstra que chegar a uma verdade absoluta é impossível. Então, o saber nunca pode ser completo e fechado, deve ser sempre acompanhado da humildade de continuar ouvindo e aprendendo.

A sabedoria não significa exclusividade. É entender um assunto de forma racional e emocional. É saber debatê-lo tendo consciência que a verdade do outro irá acrescentar a sua verdade, e não destruí-la. Sabedoria mesmo é saber usar os conhecimentos sem ser arrogante, é encontrar o equilíbrio para dividir os ensinamentos e se calar sobre eles.

O que sabemos pode simplesmente não interessar ao próximo. Pode ser pouco e insignificante. Desnecessário. Pode não fazer parte da sua realidade deixando assim de ser algo valioso para se tornar inútil naquele momento. O verdadeiro sábio compartilha seu conhecimento sem a expectativa de estar fazendo um bem ou de estar ensinando algo ilustre. Ele compartilha pela alegria de poder fazê-lo. O verdadeiro sábio tem a sensibilidade de dizer o necessário, o que interessa para a ocasião. Não se cala e não fala demais.

O verdadeiro sábio é quem sabe o que fazer com seu conhecimento.